Congresso Brasileiro de Paleontologia: 60 anos a desvendar, ressignificar e edificar
Parte dos congressistas que compareceram à Sessão Inaugural do I Congresso Brasileiro de Paleontologia. Da esquerda para a direita: Elias Dolianiti, Júlio da Silva Carvalho, Cândido Simões Ferreira, Evaristo Penna Scorza, Friedrich Wilhelm Sommer, Luciano Jacques de Moraes, José R. de Andrade Ramos, Alberto Castellanos, Wilhelm Kegel, Nicéa Magessi Trindade, Lélia Duarte, Rubens da Silva Santos, Júlio César Rebouças, Josué Camargo Mendes, Ignácio Aureliano Machado Brito, Maria Eugênia C. Marchesini Santos, Paulo Erichsen de Oliveira, Diana Mussa, Ivan de Medeiros Tinoco e Ayrton Zingano.
Geólogos e paleontólogos pioneiros militavam pela organização, profissionalização e disseminação da Paleontologia no país desde o início da década de 1940. Este anseio foi grandiosamente impulsionado na década seguinte pela expansão do ensino de geociências no país, a criação da PETROBRAS e a ampliação do levantamento geológico básico do território nacional. Estas políticas aguçaram a necessidade de coesão e ação organizada para um contínuo aperfeiçoamento da então pequena comunidade paleontológica nacional frente à nova e enorme demanda de conhecimentos na área, bem como incentivaram a atração de novos talentos. Este movimento culmina com a fundação da Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP), no dia 7 de março de 1958, e a promoção, por parte da primeira diretoria da SBP, do I Congresso Brasileiro de Paleontologia1,2. Como dizia o crítico literário Roberto Schwarz sobre o final dos anos 50 e início dos anos 60, "o país estava irreconhecivelmente inteligente", e a Paleontologia nacional firmou-se nessa época.
Realizado nos dias 16, 17 e 18 de fevereiro de 1959, o I Congresso Brasileiro de Paleontologia ocorreu no salão nobre do Departamento Nacional de Produção Mineral, no Rio de Janeiro3. Ali reuniram-se 18 dos 42 então sócios da SBP, e foram admitidos outros 13 novos associados. Este primeiro congresso contou com uma palestra (sobre a Bacia de Itaboraí), cinco apresentações orais (Formação Gramame e seus amonóides; a paleobotânica da Formação Pirabas e de depósitos quaternários cearenses; um panorama das pesquisas paleontológicas na Formação Pirabas; e uma análise do primata hominóideo Oreopithecus, do Mioceno europeu, sob uma perspectiva evolutiva), uma excursão (a afloramentos da Bacia de Itaboraí) e uma assembleia final com eleição e posse de nova diretoria.
Após o primeiro evento foram realizados diversos outros encontros que não possuíam uma uniformidade quanto à periodicidade, nomenclatura e nem quanto à publicação de resumos, por vezes ocorrendo como um simpósio junto ao Congresso Brasileiro de Geologia, ou de modo integrado ao Congresso Latino-americano de Paleontologia. Foi a partir do VIII Congresso Brasileiro de Paleontologia, em 1983, que esse evento adquiriu uma periodicidade bienal, consagrou-se oficialmente como Congresso e passou a publicar um boletim com resumos dos trabalhos apresentados.
A história da Paleontologia brasileira soma, portanto, 25 congressos nacionais já realizados em todas as regiões do Brasil. Como município que historicamente concentra a maior parte das instituições e pesquisadores ligados à Paleontologia, o Rio de Janeiro sediou seis encontros (em 1959, 1965, 1968, 1970, 1983 e 1987). Ocorreram ainda duas edições em Crato (1999 e 2015), e uma edição em cada uma das seguintes cidades: Mossoró (1961), Belo Horizonte (1976), Recife (1978), Porto Alegre (1981), Fortaleza (1985), Curitiba (1989), São Paulo (1991), São Leopoldo (1993), Uberaba (1995), São Pedro (1997), Rio Branco (2001), Brasília (2003), Aracaju (2005), Armação dos Búzios (2007), Belém (2009), Natal (2011), Gramado (2013) e Ribeirão Preto (2017). Em cada edição o Congresso cresceu e aprimorou-se, passando a receber de 400 e 500 participantes, atrair convidados e participantes estrangeiros, ter centenas de trabalhos apresentados e publicados como resumos e artigos, incorporar simpósios, mesas-redondas, workshops e minicursos temáticos, além das tradicionais excursões técnicas a afloramentos fossilíferos.
O ano de 2019 traz aniversários significativos para a Paleontologia mundial: os 250 anos de Georges Cuvier, o "pai da paleontologia", e de Alexander von Humboldt, o maior naturalista de seu tempo; os 210 anos de Charles Darwin e 160 anos de publicação de sua obra A Origem das Espécies. Essas datas somam-se, no Brasil e em Uberlândia, aos 60 anos do Congresso Brasileiro de Paleontologia e aos 45 anos da descrição e nomeação do primeiro fóssil uberlandense, inspirando a comissão organizadora na idealização do XXVI Congresso Brasileiro de Paleontologia. Ressaltando o papel da Paleontologia no esclarecimento dos revolucionários conceitos de extinção e de evolução das espécies, e a importância dos estudos paleontológicos para a conservação da biodiversidade, celebramos em 2019 o Legado do Tempo e as Lições dos Fósseis.
1 Kotzian CB & Ribeiro AM. 2009. Sociedade Brasileira de Paleontologia: 50 anos - uma homenagem aos seus fundadores. Boletim Paleontologia em Destaque, Edição Especial de setembro de 2009 . 112 p.
2 Carvaho IS. 2007. Paleontologia: 50 Anos de Ensino e Pesquisa no Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Anuário do Instituto de Geociências , 30 (1):.30-37.
3 Ramos JRA. 1959. I Congresso Brasileiro de Paleontologia. Engenharia, Mineração e Metalurgia , 29 (171): 143-144.
Douglas Riff